Tenho carcinoma basocelular, e agora?

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Você acabou de receber o diagnóstico de carcinoma basocelular (CBC) e ainda está tentando entender o que está acontecendo? Este texto é pra você!

Carcinoma basocelular é o tipo mais comum de câncer de pele, aliás é o câncer mais comum do ser humano. Por sorte, tem excelente prognóstico, com altas taxas de cura, especialmente quando diagnosticado no começo, quando ainda é pequeno. É um tumor que muito raramente espalha pelo corpo (dá metástases), mas existe o risco de recidivas, ou seja, o tumor voltar após ter sido tratado.

Classificação de risco do carcinoma basocelular

Os carcinomas basocelulares são classificados em alto e baixo risco de acordo com a chance de recidivar após o tratamento. O risco de recidiva é determinado pela localização, pelo tamanho, pelo subtipo histológico e  por já ter realizado ou não tratamentos prévios.

Subtipo histológico do carcinoma basocelular

Existem alguns subtipos histológicos diferentes do carcinoma basocelular, algo que só é possível determinar após um exame de biópsia. Normalmente o laudo da biópsia informa o subtipo histológico.

  • Carcinoma basocelular nodular: É o suptipo mais comum do carcinoma basocelular responsável por 50 a 80% dos casos, sendo um subtipo de comportamento menos agressivo.
  • Carcinoma basocelular superficial: É um dos subtipos menos agressivos do carcinoma basocelular, mais comum em pacientes jovens.
  • Carcinoma basocelular micronodular: Responsável por 5 a 20% dos carcinomas basocelulares, é um subtipo mais agressivo, que precisa de tratamento cirúrgico.
  • Carcinoma basocelular infiltrativo ou esclerodermiforme: É o subtipo de carcinoma basocelular que cresce infiltrando a pele, criando “raízes”, e portanto, mais agressivo e com maior chance de recidiva.
  • Carcinoma basocelular pigmentado: 8 a 50% dos carcinomas basocelulares podem ser pigmentados, a pigmentação depende da cor de pele, pessoas mais morenas tem maior chance de ter um tumor pigmentado. Pigmentação não influencia o prognóstico ou a agressividade do tumor.
  • Carcinoma basocelular metatípico ou basoescamoso: É o suptipo mais agressivo do carcinoma basocelular, com alto risco de recidiva e chance de metástases.
Carcimoma basocelular esclerodermiforme em pálpebra. Lesão de alto risco para recidivas.

Qual o melhor tratamento do carcinoma basocelular?

Existem 3 objetivos do tratamento do carcinoma basocelular: Cura, reestabelecimento funcional e melhor cicatriz possível, sendo que precisamos completar estes objetivos com os menores riscos possíveis. O primeiro objetivo é sempre a cura e no caso dos carcinomas basocelulares isso é possível em praticamente todos os casos. Os carcinomas basocelulares de baixo risco são tratados preferencialmente por cirurgia, podendo em casos selecionados serem tratados de forma não cirúrgica. Já o tratamento dos carcinomas basocelulares de alto risco é sempre cirúrgico. Existem 2 modalidades de cirurgia: Cirurgia convencional e cirurgia micrográfica de Mohs.

Cirurgia convencional para o tratamento do carcinoma basocelular

Na cirurgia convencional, remove-se o tumor com uma margem de segurança de pele normal ao redor do tumor. A margem de segurança é pré-determinada e depende da localização do tumor e do tipo do tumor.  A cirurgia quando feita de forma adequada é curativa e dependendo da área operada o resultado estético é muito bom.

Cirurgia de Mohs para o tratamento do carcinoma basocelular

A cirurgia micrográfica de Mohs é a modalidade cirúrgica com os maiores índices de cura do carcinoma basocelular, 99% para tumores primários e 94% para tumores recidivados. Diferente do que acontece na cirurgia convencional, não existem margens de segurança pré-determinadas. Todo o tumor é ressecado e após a retirada, todas as margens do tumor são avaliadas no microscópio para ter certeza de que o tumor foi completamente removido. Desta forma as taxas de cura são maiores que na cirurgia convencional, pela confirmação de cura ao microscópio. Este tipo de cirurgia está indicado em casos de carcinomas basocelular de alto risco, que tem maior chance de recidiva, como tumores de subtipos mais agressivos, ou ainda, tumores localizados em áreas delicadas como face, mãos e genitais. Ao mesmo tempo que tem as maiores taxas de cura, a cirurgia de Mohs permite realizar a menor cirurgia possível, removendo a menor quantidade de pele e tecido saudável ao redor do tumor, desta forma, produz as menores cicatrizes, com os melhores resultados estéticos.

O que acontece se o carcinoma basocelular não for tratado adequadamente?

Este é um tumor de crescimento lento, que raramente dá metástases, raramente espalha pelo corpo. Contudo, se não for tratado adequadamente o carcinoma basocelular pode crescer, invadir e destruir localmente. Por exemplo, um tumor localizado no nariz pode crescer invadindo músculos e ossos. Em raros casos, e geralmente sem tratamento por muito tempo, o carcinoma basocelular pode dar metástases para outros órgãos. Por isso é fundamental tratar adequadamente, prevenindo recidivas e evolução do tumor.

Quando preciso fazer exames adicionais após o diagnóstico de um carcinoma basocelular?

Normalmente os carcinomas basocelulares não precisam de exames adicionais. Para casos específicos podemos necessitar de exames de imagem como tomografia, ressonância ou ultrassom para avaliar melhor o tumor e sua extensão nos tecidos mais profundos. Mas, para a grande maioria dos casos de carcinoma basocelular não haverá necessidade de exames de imagem.

Vou precisar fazer radioterapia ou quimioterapia para o carcinoma basocelular?

A grande maioria dos casos de carcinoma basocelular são curáveis por meio de cirurgia. Pacientes que não podem realizar cirurgia por outros problemas de saúde podem ser tratados e curados com radioterapia. Pouquíssimos casos não poderão ser curados por cirurgia e poderão necessitar de radioterapia ou até mesmo quimioterapia.

Seguimento ambulatorial

Quem teve um carcinoma basocelular tem um risco maior de ter um segundo tumor, outro tumor em outra localização. Este risco é estimado em 30%, ou seja, a cada 10 pessoas com carcinoma basocelular, 3 terão um seguindo tumor num seguimento de 3 anos. Por esta razão é recomendado seguimento semestral com um dermatologista, para avaliar tanto a região tratada, como examinar também a pele toda, pesquisando possíveis novos tumores.

Considerações finais

Carcinoma basocelular é um câncer de pele de excelente prognóstico especialmente quando diagnosticado precocemente e tratado adequadamente. O principal tratamento do carcinoma basocelular é a cirurgia, sendo a cirurgia micrográfica de Mohs a melhor opção de tratamento. Carcinoma basocelular raramente metastiza, espalha para o corpo. Contudo, o risco de uma recidiva em 10 anos de seguimento é estimado em 4,4% para pacientes que fizeram cirurgia de Mohs e 12,2% para quem fez cirurgia convencional, ou seja, um risco quase 3 vezes menor em quem faz cirurgia micrográfica de Mohs.

Perguntas frequentes

O tratamento cirúrgico do carcinoma basocelular deixa cicatrizes?

Todo procedimento cirúrgico deixará uma cicatriz! A cirurgia de Mohs é a técnica cirúrgica com menor remoção de pele saudável ao redor do tumor, portanto, gera a menor cicatriz possível, com a maior taxa de cura. Mesmo gerando a menor cicatriz o risco de quelóides e cicatrizes inestéticas existe. No pós operatório usamos diversas técnicas para melhorar as cicatrizes. No tratamento do câncer de pele o objetivo inicial é sempre a cura. Uma vez curado, o segundo objetivo é a melhor cicatriz possível.

Quais os estágios do carcinoma basocelular?

Quando pensamos em oncologia é muito frequente falarmos de estadiamento dos tumores, isso até existe no carcinoma basocelular, mas é pouco usado, visto que o CBC raramente espalha pelo corpo. Como a principal preocupação no caso do carcinoma basocelular é com as recidivas locais, ao invés de estadiamento este tumor é classificado de acordo com a chance de recidiva: baixo risco e alto risco para recidivas. Algumas classificações adotam uma outra nomenclatura, mas o princípio é o mesmo: fácil de tratar (são os de baixo risco) e difíceis de tratar (são os de alto risco).

Quem tem carcinoma basocelular precisa fazer quimioterapia?

Existe quimioterapia para o carcinoma basocelular sim, mas é extremamente raro ver pacientes que precisam usar. Nos raros casos em que o carcinoma basocelular se espalha pelo corpo, quando existem metástases ou nos casos em que o tumor é muito grande e não tem como ser operado, ai sim existe indicação de quimioterapia.

Um carcinoma basocelular pode virar um melanoma?

Não. Os dois são cânceres da pele, mas um não se transforma no outro. Como ambos são causados por exposição solar, é possível uma pessoa ter os 2 tumores em locais diferentes da pele, mas um não se transforma no outro.

Referências bibliográficas

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Autor:

Dr. Gustavo Alonso

Dermatologista – CRM – SP: 97410 | RQE – 37815