Carcinoma espinocelular

Câncer de Pele, Diagnósticos

Carcinoma espinocelular (CEC) é um tipo de câncer de pele que pode ter comportamento agressivo, se não for tratado adequadamente pode causar metástases e até óbito. Quanto mais precoce o diagnóstico e o tratamento maior a chance de cura!

CEC não é exclusivo da pele, podendo ocorrer também em mucosas, como, garganta, boca, colo do útero, vagina e pênis. Seu comportamento é ainda mais agressivo nas mucosas, principalmente em boca e garganta.

O carcinoma espinocelular também é conhecido como carcinoma epidermóide ou carcinoma de células escamosas, todos os nomes dizem respeito ao mesmo tipo de tumor, originário na camada espinhosa da epiderme, por isso, espinocelular.

Fatores de risco para o carcinoma espinocelular:

A incidência de CEC tem aumentado drasticamente nos últimos anos. O aumento da exposição solar, a mudança dos hábitos de vestuário, a diminuição da camada de ozônio e o envelhecimento da população o carcinoma espinocelular ocorre pela ação crônica da radiação ultravioleta, logo quanto mais velho o indivíduo, mais radiação ultravioleta ele terá recebido) são as causas deste aumento.

  • Pele clara:  pessoas de pele clara, olhos azuis, cabelos claros, que se queimam com facilidade tem um risco maior de desenvolverem carcinoma espinocelular.
  • Sexo masculino: A incidência de carcinoma espinocelular em homens é quase o dobro que em mulheres. Pela maior exposição ocupacional e recreacional ao sol, homens tem mais risco. O uso de batom e cabelos compridos pelas mulheres, também se relaciona a uma menor incidência de carcinoma espinocelular em lábios e orelhas.
  • Exposição à radiação ultravioleta:  A radiação ultravioleta é considerada o principal fator de risco para carcinoma espinocelular. Existe uma reação linear entre exposição solar e CEC. A cada 8 a 10 graus de decréscimo de latitude a incidência de carcinoma espinocelular dobra. Sendo que a incidência de CEC é maior na linha do equador. Carcinoma espinocelular é mais comum em áreas cronicamente expostas do corpo, como rosto e mãos.  
  • Imunossupressão: Pacientes com algum tipo de imunossupressão tem um risco maior de desenvolver carcinoma espinocelular. Isto é particularmente importante em transplantados. O risco de desenvolver um carcinoma espinocelular varia de acordo com o tipo de transplante. Transplante de coração e pulmão tem um risco maior que transplante renal, visto que as drogas usadas para evitar a rejeição causam mais imunossupressão. O tempo do transplante também é importante, quanto mais tempo maior o risco de desenvolver carcinoma espinocelular.
  • Tabagismo: O carcinoma espinocelular é o único câncer de pele relacionado ao tabagismo, carcinoma basocelular e melanoma parecem não ter relação com cigarro. No caso do carcinoma espinocelular fumar aumenta em 2 vezes o risco de desenvolver um tumor. Isto é muito importante em boca, carcinoma espinocelular de lábio é mais comum em fumantes.
  • Papiloma vírus humano (HPV): A infecção pelo HPV está mais relacionada a carcinoma espinocelular de vagina, vulva, pênis e colo do útero. Na pele pode ser um contribuinte secundário, principalmente em síndromes genéticas e pacientes transplantados.
  • Outros: Existem algumas doenças genéticas como xeroderma pigmentoso, que são relacionadas com aparecimento de carcinoma espinocelular. Radiação ionizante como usada em radioterapia também está relacionada a um maior risco. Nestes casos os carcinomas tendem a ser também mais agressivos. 

Como reconhecer um carcinoma espinocelular?

O CEC não é tão característico quanto o carcinoma basocelular ou o melanoma. É um tumor mais difícil de se diagnosticar. Em geral forma um nódulo (bolinha) de coloração avermelhada, associado a áreas ásperas e queratósicas (cascas amareladas/esbranquiçadas duras e ásperas). Normalmente é uma lesão friável que pode se ulcerar, formando uma ferida que não cicatriza. Como regra é uma lesão na pele que costuma ter um crescimento rápido.

É mais comum em locais expostos ao sol, como face, colo, antebraços e dorso de mãos. Na face, é frequente nos lábios e na orelha, sendo em geral, mais agressivo nestas localizações.

A- Carcinoma espinocelular (CEC) em paciente de pele clara e olhos claros. B- CEC em lábio inferior. C-Lesão característica: nódulo avermelhado com cascas amareladas e endurecidas. D- CEC em orelha

Carcinoma espinocelular dá metástases?

Sim, diferente do carcinoma basocelular que raramente dá metástases,  o carcinoma espinocelular pode dar metástases tanto para linfonodos regionais como metástases para órgãos a distância. Existem fatores que aumentam a probabilidade de metástases:

  • CEC maiores que 2 centímetros
  • CEC recidivados
  • CEC em pacientes transplantados
  • CEC em área de cicatriz ou queimadura prévia
  • CEC em área de radioterapia prévia

Diferentes tipos de carcinoma Espinocelular

Existem alguns tipos diferentes de CEC, com comportamento e tratamentos distintos:

  • Carcinoma verrucoso: É uma variante do carcinoma espinocelular de crescimento lento. Normalmente tem um aspecto exofítico, que lembra uma couve-flor, justamente por este aspecto se confunde com verrugas virais (daí o nome verrucoso). Pode acometer lábios (sendo conhecida como papilomatose oral florida), genitais (sendo em geral grandes tumorações em vagina e pênis, conhecidas como Tumor de Buschke-Loewenstein) planta dos pés, couro cabeludo, tronco e extremidades. Em geral tem um comportamento menos agressivo e melhor prognóstico, mesmo sendo menos agressivo, o tratamento é cirúrgico.
  • Queratoacantoma: É uma variante de baixo risco do carcinoma espinocelular. Costuma se apresentar como um “vulcão”, uma nodulação com uma depressão central. Nesta depressão central normalmente existe um material de queratina. Costuma ter um comportamento pouco agressivo. Por vezes pode ter crescimento extremamente rápido, atingindo grandes dimensões em poucos meses, mas mesmo com o crescimento rápido tem comportamento pouco agressivo. Alguns autores acreditam que se o queratoacantoma não for tratado ele pode regredir, se curar, espontaneamente. No entanto, pela dificuldade de se diferenciar um queratoacantoma de um carcinoma espinocelular, não é recomendável abandonar tratamento. Atualmente a grande maioria dos médicos prefere tratar o queratoacantoma como um carcinoma espinocelular comum, mesmo considerando que o queratoacantoma possa ser um pouco menos agressivo.
  • Doença de Bowen: É uma forma de carcinoma espinocelular que está restrita à camada mais superficial da pele, a epiderme. É mais frequente em após os 70 anos de idade, sendo mais comum em mulheres. A localização típica é nos membros inferiores, especialmente as pernas, responsáveis por 70 % dos casos. Por ser mais superficial em geral tem um bom prognóstico. Contudo, pode evoluir para um carcinoma espinocelular invasivo se for tratado adequadamente. O tratamento é eminentemente cirúrgico, mas casos isolados podem ser tratados de forma não cirúrgica.

Grau de diferenciação do carcinoma espinocelular

Você acabou de pegar o resultado do seu exame de biópsia e o diagnóstico é CEC. Porém, existem outras informações escritas ali, especialmente o grau de diferenciação:

  • Carcinoma espinocelular bem diferenciado: Diz respeito ao grau de diferenciação celular, quando mais bem diferenciado, melhor o prognóstico. Grau de diferenciação é a característica da célula do tumor, quando mais parecida com as células normais da pele, mais diferenciado o tumor. Quanto menos parecido com uma célula normal, mais indiferenciado o tumor.
  • Carcinoma espinocelular moderadamente diferenciado: As células do tumor não são iguais as da pele normal, mas ainda mantém uma semelhança, tem um prognóstico intermediário entre um bem diferenciado e um CEC indiferenciado.
  • Carcinoma espinocelular indiferenciado: É o CEC com células que não se parecem muito com as células normais da pele, quando o tumor é indiferenciado em geral ele é mais agressivo.

O carcinoma espinocelular tem cura?

Sim, se o diagnóstico for feito de forma precoce, mais de 90% dos casos de carcinoma espinocelular são curáveis.  A cirurgia é sempre a primeira opção no tratamento. Opções não cirúrgicas são a exceção, indicadas somente nos casos de baixo risco ou nos pacientes sem condições de realizarem cirurgia. E qual o melhor tratamento para o carcinoma espinocelular? A escolha do melhor tratamento depende da classificação de risco do tumor. Este risco leva em conta a chance de recidiva após tratamento e chance de metástases regionais (para gânglios) ou metástases à distância. O carcinoma espinocelular pode ser classificado em baixo risco, alto risco e muito alto risco. Saiba mais sobre o tratamento do carcinoma espinocelular.

Como evitar o carcinoma espinocelular ?

A principal causa do carcinoma espinocelular é a exposição à radiação solar. Pessoas de pele clara, ou que tenham fatores de risco para desenvolver carcinoma espinocelular (transplantados por exemplo) devem evitar a exposição solar, usar roupas adequadas, óculos de sol e protetores solares. Um estudo feito com transplantados renais que usaram protetor solar de forma adequada por 2 anos mostrou que houve uma diminuição acentuada no surgimento de carcinomas espinocelulares se comparado a um grupo de transplantados que não uso o protetor solar. Portanto a prevenção é a melhor caminho para evitar o carcinoma espinocelular. Além da prevenção a consulta regular a um médico especialista é recomendada a todos os pacientes que já tiveram carcinoma espinocelular. É um câncer que se diagnosticado precocemente tem altos índices de cura, mas se negligenciado pode evoluir com metástases e até óbito. 

    
Referências bibliográficas

  1. Thompson AK, Kelley BF, Prokop LJ, et al. Risk Factors for Cutaneous Squamous Cell Carcinoma Recurrence, Metastasis, and Disease-Specific Death: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Dermatol. 2016 Apr;152(4):419-28.
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  4.  Madeleine MM, Patel NS, Plasmeijer EI, et al. The Keratinocyte Carcinoma Consortium (KeraCon) Immunosuppression Working Group. Epidemiology of keratinocyte carcinomas after organ transplantation. Br J Dermatol. 2017 Nov;177(5):1208-1216

Como reconhecer um carcinoma espinocelular

Autor:

Dr. Gustavo Alonso

Dermatologista – CRM – SP: 97410 | RQE – 37815