É um tipo de melanoma ocorre na planta dos pés, palma das mãos e dedos, podendo inclusive acometer a unha. É um  tipo mais raro de melanoma, representando 2 a 3 % do total. Diferente dos demais melanomas, não tem relação direta com exposição solar, sendo que atualmente acredita-se que o trauma crônico pode ter um papel no seu aparecimento.

Também diferentemente dos demais melanomas acomete todos os grupos raciais com incidências semelhantes.  É o melanoma mais comum em afrodescendentes e asiáticos.

 Da mesma forma que o melanoma comum, o fator prognóstico mais importante é o índice de Breslow.  Infelizmente o melanoma acral acaba sendo diagnosticado mais tardiamente, com isso, no momento do diagnóstico os tumores já são espessos, com índice de Breslow maior, o que acarreta num pior prognóstico e um tumor mais agressivo. Uma das razões para este atrasa no diagnóstico é a dificuldade em reconhecer um melanoma acral.

Como reconhecer um melanoma acral?

          O melanoma acral surge com uma mancha nas regiões plantares, palmares, a mancha pode ser de coloração enegrecida, acinzentada ou até mesmo avermelhada, sem pigmentação. Conforme o melanoma evolui, podem surgir nódulos friáveis e ulceração, ferida que não cicatriza. O local mais afetado é a sola dos pés. Uma ferramenta que pode ajudar o diagnóstico é a dermatoscopia que revela elementos não visíveis ao olho nú que são fundamentais para o diagnóstico precoce do melanoma acral.

Como pode ser confundido com vários problemas de pele como verrugas, machucados, calosidades e hematomas em geral existe atraso no diagnóstico prejudicando o prognóstico do melanoma.

Pontos importantes para pensar no diagnóstico do melanoma acral:

  • Mais frequente nas solas dos pés
  • Mais comum em pessoas acima de 50 anos
  • Pigmentação variada, sendo comum a combinação de cinza-azulado, preto, marrom e vermelho
  • Tamanho maior que 6 mm
  • Inicialmente é plano, mas com evolução pode criar relevo formando uma elevação que pode ulcerar, ferir. Ferida que não cicatriza na sola do pé é sempre um alerta e precisa ser examinada!

O melanoma acral que acomete as unhas é também conhecido como melanoma subungueal. Se inicia como uma pigmentação escura em faixa na unha, chamada de melanoníquea estriada. Esta pigmentação pode evoluir chegando a tomar toda a unha. Melanomas subungueais são mais comuns acima de 50 anos, sendo mais frequentes em unhas do dedão, tanto da mão quanto do pé.

Melanoma acral em região plantar, localização mais comum deste tumor.  

Qual o tratamento do Melanoma acral?

O principal tratamento do melanoma é a cirurgia. Remoção de todo o tumor com uma margem de segurança de pele normal. Essa margem de segurança visa remover completamente o tumor, mesmo que não seja visível ao olho nú. As margens de segurança preconizadas são as mesmas dos demais tipos de melanoma e variam de acordo com a espessura do tumor.

Margens de segurança do Melanoma de acordo com sua espessura

No passado era muito comum a cirurgia de amputação parcial do pé ou da mão, assim como, amputação dos dedos para o tratamento do melanoma. Atualmente existe um grande esforço para realizar cirurgias mais conservadoras, com manutenção funcional. Infelizmente as cirurgias conservadoras só são possíveis em Melanomas acrais iniciais, diagnosticados mais precocemente. Como ainda existe no diagnóstico, as cirurgias de amputação ainda são comuns no Brasil. Mais recentemente a cirurgia de Mohs passou a ser usada no tratamento do melanoma, em especial dos melanomas acrais. A vantagem deste tipo de cirurgia é uma maior taxa de cura, com cirurgias menores, defeitos cirúrgicos menores, que facilitam a reconstrução melhorando a recuperação do paciente.

          A pesquisa de linfonodo sentinela deve ser realizada em melanoma acral e segue as mesmas indicações dos demais melanomas, sendo indicada em melanomas acima de 1,0 mm de Breslow, e em casos selecionados de melanomas com Breslow entre 0,8 e 1,0 mm.

          Em relação ao tratamento sistêmico (quimioterapia) do melanoma acral, existem algumas limitações. Este tumor raramente exibe a mutação no gene B-RAF, portanto, o uso das terapias alvo com inibidores de BRAF e MEK acaba sendo mais limitado. Podemos usar imunoterapia, mas existem menos estudos sobre a imunoterapia em melanoma acral do que seu uso em melanoma extensivo superficial.

Perguntas frequentes

Melanoma acral é mais agressivo que o melanoma comum?

Não, quando comparamos os 2 tipos, melanoma acral e melanoma extensivo superficial, percebemos que o ponto que mais impacta no prognóstico é o índice de Breslow. Quanto mais espesso o melanoma, pior o prognóstico. Contudo, nos melanomas acrais existe um atraso no diagnóstico, muitas vezes o melanoma é confundido com um machucado e não recebe a devida atenção. Com isso, o diagnóstico é mais tardio e no momento do diagnóstico o melanoma é mais espesso, tem índice de Breslow maior, tendo pior prognóstico.

O melanoma acral pode não ser escuro, enegrecido?

          Pode, existem casos de melanomas acrais amelanóticos, ou seja, que não exibem pigmentação. Estes casos costumam se apresentar como um grande desafio diagnóstico e infelizmente acabam sendo diagnosticados tardiamente. Por isso é importante consultar um dermatologista toda vez que existe um machucado, nas solas ou palmas, que não cicatriz em 15 dias.

 Considerações finais

          Melanoma acral é um tumor raro, aque acomete as regiões plantares, palmares e unhas. É o melanoma mais comum de afrodescendentes e asiáticos. Pela dificuldade diagnóstica, por se confundir com outros problemas de pele, o seu diagnóstico tende a ser mais tardio o que piora o prognóstico deste tumor. A cirurgia é a principal forma de tratamento.

Referências bibliográficas

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Autor:

Dr. Gustavo Alonso

Dermatologista – CRM – SP: 97410 | RQE – 37815